Debatedor: Sérgio Miceli
Ladjane e a crítica de arte no modernismo pernambucano
Eduardo Dimitrov
Entre 1952 e 1963, Ladjane Bandeira (1927-1999) foi a responsável pela Arte Ladjane: uma página sobre artes plásticas publicada todos os domingos no periódico recifense O Diário da Noite. Fartamente ilustrada com reproduções de obras de artistas locais, uma mistura de crítica e crônica artísticas colaboraram para constituir uma comunidade imaginada entre os artistas e intelectuais recifenses, além de evidenciar as disputas por diferentes maneiras de representar o Nordeste brasileiro.
Fundadora da Sociedade de Arte Moderna do Recife, ao lado de outros artistas homens, chama a atenção o fato de Ladjane centralizar tanto poder na discussão sobre os rumos que a arte moderna pernambucana deveria tomar. Em sua página, materializou os debates, as posições e as disposições de muitos artistas do período, trazendo elementos significativos para esboçar uma história social da arte pernambucana.
A invenção da cor: representação racial na pintura de Modesto Brocos
Tatiana Lotierzo
O artigo propõe discutir a questão da “cor” enquanto problema artístico para o artista compostelano Modesto Brocos y Gómez (1852-1936), a partir de duas de suas pinturas: Engenho de Mandioca (1892) e A Redenção de Cam (1895). Interessa-nos em particular refletir sobre as opções formais adotadas por Brocos na composição de figuras humanas, compreendendo os debates sobre “cor” como uma tônica da pintura acadêmica produzida no (e sobre) o Brasil entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX – em particular, no ambiente da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Os fios que compõem tal análise serão buscados ora nas imagens produzidas por Brocos, ora num conjunto de fontes textuais que situam a problemática da cor para a pintura do período – por exemplo, na crítica de arte. Buscaremos além disso, e ainda de forma preliminar, exercitar argumentos para a hipótese que origina nossa pesquisa de mestrado – a de que as representações pictóricas produzidas por Brocos (e no conjunto da ENBA) são amostras visuais de um diálogo entre o meio artístico e o científico de seu tempo. Ao perceber a cor como problema também para uma ciência que buscava explicar o Brasil por sua composição racial e à medida que arte e ciência construíam seus modelos com base em critérios de observação, nossa intenção é situar melhor alguns pesos e medidas contidos nessa relação.
Do Engenho na Arte: Colecionismo e Mercado de Arte Contemporânea em Marcantônio Vilaça
Leonardo Carvalho Bertolossi
O objetivo deste artigo é refletir acerca da vida e obra do colecionador pernambucano Marcantonio Vilaça, que fundou em 1992 a antiga galeria Camargo Vilaça, atual Fortes Vilaça, na Vila Madalena, em São Paulo. Formado em Direito pela UnB, Marcantonio, que não obteve nenhuma formação em história da arte, colecionou obras artísticas por 22 anos, tendo sido responsável por alçar cifras milionárias a nomes da produção artística brasileira contemporânea no mercado internacional de arte. Excêntrico, dândi, inquieto e polemista, Marcantônio Vilaça constituiu um estilo agressivo de colecionismo tendo sido crítico das bienais e feiras de arte e defensor da civilização pernambucana nos circuitos artísticos de SP. Vilaça tinha “olho, entusiasmo e dinheiro” para projetar a geração 80, segundo o colecionador João Sattamini, mas era visto como “imitador e galerista de ouvir dizer” para rivais como o marchand Thomas Cohn, tendo sido chamado de “Senhor de Engenho” por sua postura irreverente. Sua galeria foi aberta em 1992, em parceria com Karla Camargo, com quem chegou a representar 35 artistas brasileiros, tendo sido a 1ª. galeria a distribuir o catálogo das exposições que montava. Com a Camargo Vilaça, Marcantônio projetou a arte brasileira nas principais feiras internacionais de arte como a Arco Madrid, Frieze Art Fair de Londres e a Art Basel da Suíça e de Miami. Pretende-se observar a trajetória de Marcantônio Vilaça, sua crítica e inserção no mercado internacional de arte através da Camargo Vilaça afim de entender as categorias, estratégias e dispositivos utilizados pelo colecionador na fabricação do valor na arte contemporânea brasileira no mercado internacional.