Debatedora: Heloisa Pontes
Grande Otelo em três tempos: uma trajetória na pista dos marcadores sociais da diferença (1917-1993)
Luis Felipe Kojima Hirano
Pretende-se analisar os personagens que Grande Otelo interpretou ao longo de sua carreira, a fim de compreender diferentes projetos de cinema no Brasil em sua articulação com os debates sobre identidade nacional e certo imaginário racial. Nas décadas de 1930, 40 e 50, em diálogo com certas ideias evocadas por Mário de Andrade e Gilberto Freyre, as chanchadas protagonizadas por Grande Otelo e Oscarito divulgam uma imagem amistosa das relações raciais. Tal imaginário vira do avesso na década de 60, com a desconstrução do chamado “mito da democracia racial” e o surgimento do Cinema Novo – movimento de que Otelo participa no início, com o filme Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. Posteriormente, estrela Macunaíma, filme em que o diretor Joaquim Pedro de Andrade busca contornar determinados impasses do Cinema Novo a partir de uma releitura do livro homônimo de Mário de Andrade. Ao percorrer os papéis de Grande Otelo à luz dos debates de época, serão discutidas não apenas as descontinuidades entre os projetos de “Brasis” no cinema e no pensamento social, mas também as continuidades, que encontram no corpo e na performance de Grande Otelo um lugar de expressão.
CONVENÇÃO EM CENA: breve reflexão sobre as convenções estética teatrais nos anos 1990 e 2000 em São Paulo
Bernardo Fonseca Machado
Coexiste no sistema teatral contemporâneo da cidade de São Paulo, uma série de convenções artísticas. Tais convenções devem sua existência, permanência e mudança à fatores de ordem interna ao próprio sistema de signos, e a fatores de ordem externa ao mesmo. Integrados, estes fatores não podem ser analisados sem a ingerência de um sobre o outro, pois contribuem mutuamente para sua existência e constituição.
O objetivo geral do artigo é investigar, ainda que de modo rápido, convenções estéticas operantes no teatro contemporâneo bem como a experiência social da cidade de São Paulo durante a década de 1990 e anos 2000. Como baliza empírica valho-me da trajetória do coletivo Teatro da Vertigem. Quero compreender como este grupo foi produto e produtor de tais convenções.
Jorge Amado e Edison Carneiro: os intelectuais na roda da capoeira
J. Mauricio Herrera Acuña
Este artigo procura compreender como se relacionavam alguns importantes intelectuais baianos com os capoeiras e sua prática durante as décadas de 1930 e 1940, momento nascente da forma contemporânea de conhecimento que temos sobre a capoeira. Mais importante, porém, é que o momento inaugural e registrado que possuímos destes contatos lança luz sobre as condições de produção do conhecimento sobre a capoeira, atrelada a dimensões políticas, de classe social e de tipos de saber. Um dos elementos principais na configuração intelectual da Bahia de então foi a circularidade que se estabeleceu junto a alguns capoeiristas, em especial nas esferas da literatura e da etnografia. Houve distintos intelectuais que fizeram referência à capoeira baiana em suas produções no período, mas optamos por privilegiar, neste trabalho, aqueles que o fizeram de maneira contínua, com ampla recepção e, mais importante, como um grupo relativamente coeso, cujas construções dialogam intensamente entre si, ressoando como um discurso de poucas notas em várias versões.
Gênero e sexualidade nas batalhas de MC
Ricardo Indig Teperman
Este artigo tem como objetivo refletir a respeito de modelos e discursos sobre gênero e sexualidade nas batalhas de MC. Nesses duelos de improviso o objetivo é, segundo seus participantes, "zoar o outro". O esforço de construção de alteridade é particularmente interessante em batalhas entre um menino e uma menina. A partir da transcrição da batalha entre os MCs Mamuti e Thais Pri, registrada em junho de 2009, veremos como apesar de já partir de uma diferença supostamente bem demarcada - a de gênero - ambos os improvisadores optam por anular (ou flexionar) a distinção de gênero para que outras categorias possam ser mobilizadas, notadamente a sexualidade. Em todo caso, a principal moeda do jogo é a diferença: trata-se de fazer troça com a diferença, agredir o "outro", diminuir o diferente para derrotá-lo, entabulando o que proponho chamar de uma "economia da diferença".